Enquanto Angola for o MPLA e o MPLA for Angola, como continua a acontecer, o MPLA vai continuar a ganhar todos os simulacros eleitorais que por cá se realizarem e sempre com larga vantagem. Se fosse para perder nem simulavam eleições. Todos, a começar pelos angolanos, sabem isso. Quando 20 milhões de pobres arrotam à fome, chega-lhes à boca a solução: votar no regime.
Por Orlando Castro
O resultado das eleições de 23 de Agosto de 2017 deram, apesar de tudo, um importante resultado à UNITA e à CASA-CE. Embora derrotados, esperava-se que já tivessem dado sinal claro que, desta vez, não deixariam que os donos da verdade em Angola, bem como os seus congéneres mundiais, com Portugal à cabeça, fizessem de nós estúpidos. Os angolanos merecem mais respeito. Mas não. Já estão a preparar o Povo com o engodo de uma desforra do MPLA em… 2020 com as eleições autárquicas. Até lá, toca a viver à grande e à MPLA.
Há muito que o MPLA, com o apoio de uma vasta máquina internacional, quer policial quer propagandística, prepara o terreno para a sua perpetuação no poder. Usa, volta a usar, sobretudo duas técnicas: comprar e intimidar. Dos tribunais à CNE, das Forças Armadas à Polícia, da Sonangol aos órgãos de comunicação do Estado, dos governadores provinciais aos sobas, tudo está como sempre esteve e estará, controlado ao milímetro.
Tendo garantido a cegueira da comunidade internacional, para quem o essencial não é haver eleições livres mas, apenas isso, haver quem vá votar, o MPLA volta a facturar como quer, onde quer e sempre que quer. O mundo volta a estar preparado, quase sempre comprado, para reconhecer a vitória do MPLA, até mesmo antes de ela acontecer.
Portugal, e tanto faz que o primeiro-ministro seja Passos Coelho ou António Costa, que o Presidente da República seja Cavaco Silva ou Marcelo Rebelo de Sousa, está sempre pronto para reconhecer a vitória do MPLA e para enaltecer a democracia angolana.
O nível de bajulação de Portugal ao regime do MPLA é de tal ordem que, se calhar a bem do reino das ocidentais praias lusitanas, até ficaria bem que o texto encomiástico fosse escrito pelo MPLA e fosse a Lisboa apenas para nele ser colocado a assinatura ou a… impressão digital.
Que as eleições nunca serão nem livres nem justas, todos sabem embora só alguns o digam. Em 1992 já Jonas Savimbi alertava o mundo para essa técnica ancestral dos regimes ditatoriais.
A Oposição vangloria-se (justamente) com o bom resultado conseguido em 2017. Já terão parado para pensar que tiveram a percentagem que o MPLA quis e que, mantendo uma folgada maioria, lhe permite dar um ar de democracia “séria”?
Sendo, como tem acontecido desde a independência, mais papistas do que o papa, os homens do MPLA mostraram serviço ao soba maior, acelerando o processo de manipulação e de compra de votos.
Os especialistas internacionais avisaram o regime que moderasse a amplitude da vitória, seguindo mas não copiando totalmente os resultados eleitorais dos seus mais emblemáticos faróis políticos – Coreia do Norte e Guiné Equatorial. Mesmo assim, a oportunidade de mais uma vez humilharem os adversários, sobretudo os da UNITA (considerados em muitos círculos do poder como uma subespécie de angolanos), ainda deu os seus frutos.
A comunidade internacional está agora a preparar-se para voltar a aproveitar esta oportunidade em que as propostas messiânicas de João Lourenço provocam orgasmos em diversos areópagos políticos, sociais, culturais e intelectuais, para fornecer mais uns quilómetros de corda ao regime do MPLA. Corda essa que, mais uma vez, o MPLA irá usar para enforcar os angolanos de segunda mas também os estrangeiros. Só não vê quem não quer, que os donos do poder em Angola estão-se nas tintas para o chamado modelo ocidental de democracia.
Quanto à UNITA, o Galo Negro voltou a não voar e, mais uma vez, vai apanhar café às ordens dos senhores coloniais do MPLA. O mesmo se passa com a CASA-CE.
Tirando os conhecidos exemplos da elite partidária, todos aqueles que humildemente ainda são simpatizantes da UNITA e da CASA-CE, incluindo milhares dos que andaram a combater, vão continuar a apanhar café, ou algo que o valha.
Muitos angolanos pensaram que os discípulos de Jonas Savimbi prefeririam a liberdade de barriga vazia do que a escravatura de barriga cheia. Ledo engano.
A UNITA, ou seja – os seus dirigentes, teima em confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas. Continua a preferir ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é… não há memória que a salve, nem mesmo a do Mais Velho.
Lamenta-se, por isso, que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.
Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Os portugueses têm um velhinho ditado popular que diz: “quem vai para o mar avia-se em terra”. Em Angola, a UNITA e a CASA-CE criaram um outro: “quem vai para os negócios avia-se no MPLA.”
Quanto à cobertura da realidade angolana na era João Lourenço (o mesmo produto noutra embalagem) por parte da Comunicação Social portuguesa, com raras excepções (onde já nem constam a SIC e o Expresso) é tudo uma questão de preço e não, como se esperaria, de valor. Ou seja, ser politicamente correcto e economicamente dependente dos centros de decisão do MPLA é o que está a dar.
Concordo plenamente com o articulista. E tenho a acrescentar que enquanto o mpla estiver no poder Angola nunca conhecerá o rumo do desenvolvimento, ou seja o mal maior de Angola é o mpla e devia ser extinto.